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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Conto #29 - A força humana (Rubem Fonseca, Brasil, 1965)

Mais uma vez o autor trabalha o homem em busca de seu lugar no mundo contemporâneo tendo como cenário a cidade grande. A força humana do conto não é somente metafórica, é a força física, a beleza do corpo...  (Onde ler: A coleira do cão , Rubem Fonseca, Editora Nova Fronteira, 2014)

Conto #28 - A opção (Rubem Fonseca, Brasil, 1965)

Este conto causa estranheza pelo formato: uma mistura de falas de médicos alunos e professores. O tema também é polêmico (ainda mais em 1965): eles discutem, como deuses, qual sexo será definido em um paciente hermafrodita após uma cirurgia, se será ele homem ou mulher. (Onde ler: A coleira do cão , Rubem Fonseca, Editora Nova Fronteira, 2014)

Conto #27 - Os graus (Rubem Fonseca, Brasil, 1965)

A narrativa fluída e oscilante em diferentes vozes e narradores presente na trama do conto Os Graus de Rubem Fonseca explora e questiona as frustrações humanas em relação ao envelhecimento, familia, sexo...  Como outros contos do livro A coleira do cão, o autor reflete o homem dentro da sociedade de uma maneira crua e verdadeira. (Onde ler: A coleira do cão , Rubem Fonseca, Editora Nova Fronteira, 2014)

Conto #26 - O gravador (Rubem Fonseca, Brasil, 1965)

Narrativa engenhosa onde vozes diferentes se encontram e desencontram numa trama que não deixa de questionar a sociedade. A virtude deste conto, um dos melhores (se é que podemos classificar textos como melhores ou piores, sem que pareça uma competição) que já li, está não somente no conteúdo - uma discussão sobre aparências, relacionamentos e solidão - mas também na forma que, apesar de intercalar narradores de uma maneira inteligentíssima, em seu desfecho, mostra-se uma trama completa, sem peças faltantes. (Onde ler: A coleira do cão , Rubem Fonseca, Editora Nova Fronteira, 2014)      

Conto #25 - A coleira do cão (Rubem Fonseca, Brasil, 1965)

Ponto positivíssimo para a fluídez cinematográfica de Rubem Fonseca em um conto policial (gênero pelo qual o autor ficou conhecido) hiper-realista que narra a rotina de investigação de um homicídio em uma delegacia no Rio de Janeiro. Apesar de escrito há 52 anos, nunca esteve tão atual. (Onde ler: A coleira do cão , Rubem Fonseca, Editora Nova Fronteira, 2014) 

Conto #24 - O fantasma de Canterville (Oscar Wilde, Irlanda, 1887)

Apesar de por vezes classificado infantil, o conto O fantasma de Canterville é de uma construção invejável: uma deliciosa mistura de horror, humor e drama. É impossível também não identificar no texto as características góticas que iriam influenciar o cinema, os quadrinhos e os cartoons do século seguinte a sua publicação. (Onde ler: Contos de suspense e terror: obras primas de grandes mestres do conto , vários autores, Lebooks Editora (digital), 2017) 

Conto #23 - O poço e o pêndulo (Edgar Allan Poe, EUA, 1842)

Genial e altamente sinestésico, a grande jogada de um dos contos mais famosos de Egar Allan Poe é não descrever o cenário ou a ação em nenhum momento, mas sim a percepção do personagem sobre tudo o que acontece. Ou seja, a visão do leitor é a do protagonista compartilhada e como quase toda a ação se passa na escuridão, a sensação é extremamente claustrofóbica e tensa - isto sem falar em alguns períodos de desorientação total. (Onde ler: Contos de suspense e terror: obras primas de grandes mestres do conto , vários autores, Lebooks Editora (digital), 2017) 

Conto #22 - Bocatorta (Monteiro Lobato, Brasil, 1918)

Conto literariamente muito bom, revelando um Lobato muito hábil com as ferramentas de construção do genêro fantástico. Contudo, me incomoda como o autor trata seus personagens negros. Pessoalmente, sinto uma presença muito forte do discurso extra-literário do escritor na narrativa - mas pode ser uma impressão errada. (Onde ler: Urupês , Monteiro Lobato, Editora Globo, 2007)

Conto #21 - O quarto do pesadelo (Sir Arthur Conan Doyle, Escócia, 1921)

Surpreendente, mas surpreendente mesmo, conto do criador de Sherlock Holmes. Além de muito bem escrito, o texto traz um plot twist totalmente imprevisível, ainda mais imaginando o ano em que foi escrito. Nada mais posso dizer, senão será spoiler . Recomendadíssimo. Ahh.. a figura acima ilustrava o conto quando foi originalmente publicado na revista  The Strand Magazine , em dezembro de 1921. (Onde ler: Contos de suspense e terror: obras primas de grandes mestres do conto , vários autores, Lebooks Editora (digital), 2017)

Conto #20 - O depoimento de Randolph Carter (H. P. Lovecraft, EUA, 1919)

De volta ao terreno das ancestrais criaturas de Lovecraft, neste conto temos o que poderia ser uma das primeiras referências ao Necronomicon (embora o texto no rodapé do livro negue). O autor usa novamente a estratégia (a qual não me incomoda, de maneira nenhuma) de não descrever diretamente algumas situações, referindo-se ao terror como inimaginável e indescritível. A trama é simples (apesar do discurso dentro do discurso) e narra a expedição à uma tumba onde vivem criaturas horrendas; a inovação está no uso de uma espécie de "telefone" pelo qual o personagem Harley Warren (que mergulha na escuridão da tumba) conversa e descreve o que vai acontecendo a Randolph Carter, seu ajudante. (Onde ler: H.P. Lovecraft: Medo Clássico Vol. 1 , H. P. Lovecraft, Editora DarkSide, 2017)

Conto #19 - Um ardil (Guy de Maupassant, França, 1880)

Dentro todos os contos que li este ano, este foi o que menos me cativou. Não me atraiu a linguagem, a trama... simples assim, não me atraiu. Telvez contextualizando historicamente, o texto tenha um peso maior, pela maneira como ele trata a mulher. (Onde ler: Contos de Suspense e Terror: Obras primas de grandes mestres do conto , vários autores, Lebooks Editora (digital), 2017)  

Conto #18 - O teste (Richard Matheson, EUA, 1954)

Uma agoniante reflexão sobre a velhice e a indiferença dos filhos em relação aos pais: em um futuro não muito distante, supostamente para amenizar o problema da superpopulação, os idosos precisam fazer um teste de 5 em 5 anos e caso sejam reprovados são condenados a morte (pelas mãos da própria família). Matheson utiliza de um texto fluído e do gênero ficção científica para discutir um tema que era em 1954 e que ainda contínua muito atual. Genial, na minha opinião. (Onde ler: O Incrível Homem que Encolheu e outras histórias , Richard Matheson, Editora Novo Século, 2010)

Conto #17 - O afogado mais bonito do mundo (Gabriel García Márquez, Colombia, 1968)

A sutileza do fantástico alegórico de García Márquez encontra rapidamente Lovecraft (afinal Estevão não veio das profundezas do oceano?). O estranhamento aqui é do leitor em relação ao absurdo do não estranhamento dos personagens.   (Onde ler:  A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada , Gabriel García Márquez, Editora Record, 1998)

Conto #16 - A Pata do Macaco (W. W. Jacobs, Inglaterra, 1902)

No conto, um amuleto (uma mão de um macaco) concede três desejos ao seu dono. Mas cuidado com o que você deseja, pois a contrapartida pode ser bem cara. Embora este conto escrito por William Wymark Jacobs (autor pouco conhecido por aqui e cuja obra é mais dedicada ao humor do que ao fantástico) tenha sido escrito no início do século passado, o enredo trabalha muito mais o lado psicológico do que terror visível, antecipando uma característica literária um pouco mais recente.   (Onde ler: Antologia da literatura fantástica , Vários autores, Editora Cosac Naify, 2013)

Conto #15 - A estampa da casa maldita (H. P. Lovecraft, EUA, 1920)

A cada conto que leio de Lovecraft fica mais transparente o tamanho da influência do autor no cinema fantástico de error. Neste texto específico, o estranhamento vem de muitas fontes: uma casa opressora, um livro maldito, um personagem misterioso e maltrapilho e... canibalismo. Mas para Lovecraft a construção do horror não está apenas nas idéias e no conteúdo... a ferramenta principal é a forma, o processo como as palavras são encadeadas entre inúmeros adjetivos, como fosse um discurso muito inflamado ou um alerta hipnótico sobre criaturas inomináveis e situações tétricas. (Onde ler: Um sussurro nas trevas , H. P. Lovecraft, Editora Francisco Alves, 1983)

Conto #14 - Um frágil ancião (H. P. Lovecraft, EUA, 1920)

"Ademais, um lobo-do-mar tão entrado em anos só podia ter sido testemunha de vintenas de fatos muito mais excitantes, nos dias longinquos de sua juventude já esquecida." Um pequeno conto de Lovecraft que, pasmem, não é narrado em primeira. A trama é sobre um assalto mal sucedido à casa de um velho senhor que lá no fundo, não é tão indefeso assim. Há um lampejo do horror "cósmico" em um texto onde o tudo é muito mais sugerido do que mostrado. (Onde ler: Um sussurro nas treva s, H. P. Lovecraft, Editora Francisco Alves, 1983)

Conto #13 - A história do Necronomicon (H. P. Lobecraft, EUA, 1927)

A grande sacada deste conto é o teor documental, uma espécie de biografia do livro dos mortos. Anteriormente, o Necronomicon havia sido citado em A cidade sem nome (1921) e O cão de caça (1924), mas aqui o estilo é diferente, menos adjetivado, quase jornalístico. Obviamente é muito interessente, mas somente dentro do contexto. (Onde ler: H. P. Lovecraft: Medo Clássico Vol. 1 , H. P. Lovecraft, Editora DarkSide, 2017)

Conto #12 - O Cão de caça (H. P. Lovecraft, EUA, 1924)

Se tem algo legal na obra de H. P. Lovecraft é ver como os contos, quase sempre narrados em primeira pessoa, se relacionam numa espécie de mitologia cósmica de deuses e demônios ancestrais. A princípal conexão é o amaldiçoado livro dos mortos, o Necronomicon (livro fictício inventado pelo autor e que muita gente jura que é real).  O enredo de  O Cão de caça , que é razoavelmente simples, narra as desventuras de um "ladrão de túmulos" que liberta um terrível demônio de forma canina. É questionável - ou não, pode ser positivo, dependendo do ponto de vista - que todos os contos de Lovecraft mantenham o mesmo estilo descritivo e adjetivado. Esta característica textual garante uma experiência de completo extranhamento complementando as criaturas abomináveis saídas da cabeça do autor.   (Onde ler: H. P. Lovecraft: Medo Clássico Vol. 1 , H. P. Lovecraft, Editora DarkSide, 2017)

Conto #11 - O coração delator (Edgar Allan Poe, EUA, 1843)

Neste conto-confissão de Poe, a aproximação do leitor é feita através da interlocução "direta" na qual o narrador refere-se explicitamente aos leitores várias vezes, inclusive insistindo que não é louco - apesar de planejar matar alguém por causa do olho. Sim, o olho da vítima (um velho) era demoníaco, azul-pálido, parecido com o de um abutre por causa de uma catarata.  Mas após cometer o crime perfeito, segundo o narrador, o coração da vítima continua a bater, apesar do cadáver cortado em pedaços. (Onde ler: O escaravelho de ouro e outras histórias , Edgar Allan Poe, Editora L&PM, 2010)

Conto #10 - Morella (Edgar Allan Poe, EUA, 1835)

"Assim a alegria subitamente se desvanecia no horror e o mais belo se transformava no mais hediondo..." Numa trama simples de apenas quatro páginas, o narrador em primeira pessoa discorre de maneira genial e melancólica o estranhamento em relação à erudição da esposa - estranhamento que se transforma em horror verdadeiro assim que as características sobrenaturais de Morella vão se revelando. Já que a comparação é sempre inevitável, o horror fantástico de Poe me parece muito mais mais pessoal e micro do que o cósmico Lovecraft . Ainda que ambos tenham como principal caracterísca  incitar de maneira genial sensações de medo e pavor no leitor.     (Onde ler: O escaravelho de ouro e outras histórias , Edgar Allan Poe, Editora L&PM, 2010)

Conto #9 - Os homens que descobriram cadeiras proibidas (Ignácio de Loyola Brandão, Brasil, 1979)

Realismo mágico engajadíssimo sem sutilezas que, infelizmente, hoje parece datado e empobrecido, apesar dos diálogos rápidos e certeiros. (Onde ler: Cadeiras Proibidas , Ignácio de Loyola Brandão, Editora Global, 1997)

Conto #8 - O espelho (Machado de Assis, Brasil, 1882)

"Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro..." Aqui Machado flerta com o fantástico para discutir indiretamente a composição da alma humana. Contudo, livre interpretando, uma metáfora pefeita para tempos em que está em voga a dualidade do eu com o eu virtual idealizado (o eu "facebookiano"). (Onde ler: 50 contos de Machado de Assis , Machado de Assis, Editora Companhia das Letras, 2007)    

Conto #7 - Assombrações de Agosto (Gabriel García Márquez, Colômbia, 1980)

A narrativa sútil de Marquez parece subverter o estranhamento do fantástico, mas será mesmo? Ou será apenas mais uma ferramenta? Enfim, num conto de pouquíssimas páginas, o autor desconstrói o fantástico numa trama simples, que lembra um relato de viagem, e na própria descrição do antigo castelo (supostamente mal assombrado), cuja a arquitetura antiga foi toda modificada. Mas lá no fundo, num quarto escuro, nada foi mexido. (Onde ler:  Doze Contos Peregrinos , Gabriel García Márquez, Editora Record, 2008)

Conto #6 - As Ruínas Circulares (Jorge Luis Borges, Argentina, 1944)

Um conto de Borges é sempre desafiador: uma passagem para um labirinto perfeito de palavras com saídas para lugares distintos, um quebra cabeças com peças que propositalmente se ausentam aqui e ali. A sensação que tenho após percorrer  As Ruínas Circulares é de contentamento. O texto que narra a desventura de um homem que concebe outro homem como se um deus fosse, me encoraja à uma interpretação alegórica à criação literária. Será esta compreensão uma saída para o labirinto engenhoso do autor ou apenas uma armadilha textual? (Onde ler: Ficções , Jorge Luis Borges, Editora Companhia das Letras, 2007)

Conto #5 - A cidade sem nome (H. P. Lovecraft, EUA, 1921)

Estamos de volta ao horror pré-diluviano de Lovecraft. Dois diferenciais aqui: as criaturas ancestrais e zoomórficas não são gigantescas, mas menores que o ser humano; já o cenário, claustrofóbico,  são túneis e escadas que não permitem que o protagonista fique em pé. O resultado é aquela sensação de terror característica dos contos de Lovecraft, onde o ser humano é insignificante perante criaturas quase sempre indescritíveis e inomináveis. (Onde ler: H.P. Lovecraft: Medo Clássico Vol. 1 , H. P. Lovecraft, Editora DarkSide, 2017)

Conto #4 - A ilha ao meio-dia (Julio Cortázar, Argentina, 1966)

Aqui, a força motriz do estranhamento de Cortázar não subutiliza o rompimento da ordem natural, ou seja, não há criaturas mágicas, desordem fantasiosa ou mundos imaginários. O realismo fantástico está na obsessão aparentemente sem motivo do personagem por uma pequena ilha grega cuja forma lembra uma tartaruga. Mas o desfecho, embora ainda mantenha a verosimilhança, sugere que talvez nossas vidas não sejam simplesmente regidas pelo "acaso". A sensação após a leitura do conto é de uma obra cuja narrativa é completa, sem arestas, sem irregularidades, (Onde ler:  Todos os fogos o fogo . Julio Cortázar, Editora Cavalo de Ferro, 2015).   

Conto #3 - O fantasma e o consertador de ossos (Sheridan Le Fanu, Irlanda, 1838)

O fantástico gótico com vários elementos clássicos do gênero, como castelos, cemitérios e fantasmas. O mais interessante do conto de poucas páginas é a sua  inspiração: uma suposta lenda que diz que a última pessoa enterrada em um cemitério herda a tarefa de voltar ao mundo dos vivos para buscar água para os demais "moradores" do local, que literalmente queimam no purgatório.  (Onde ler:  Contos Fantásticos do Século XIX escolhidos por Ítalo Calvino , vários autores, Editora Companhia das Letras, 2004)   

Conto #2 - Linha reta e linha curva (Machado de Assis, Brasil, 1860)

Machado de Assis discute, de maneira sarcástica e irônica (clichê?) temas extratemporais: relacionamento, amor e manipulação. Numa linguagem descomplicada Machado demonstra sua habilidade com as palavras e torna questões simples interessantes. O desfecho é feliz demais para o meu gosto, mas vale a pena a viagem para Petrópolis de 1860. (Onde ler: Contos Fluminenses , Machado de Assis, Editora Martins Fontes, 2006) 

Conto #1 - Dagon (H. P. Lovecraft, EUA, 1919)

Tenho um pouco de Lovecraft em mim. Além do Cthulhu que envolve meu braço direito, o gosto pelo estranhamento do fantástico que vem desde os quadrinhos da infância, das páginas infinitas dos Stephen Kings devorados na adolescência e do direcionamento nos estudos desenvolvidos nas conclusões da faculdade e pós... tudo sempre generosamente alimentado pelo fantástico. Nada mais justo ressuscitar este blog com a sensação (a melhor descrição para os pequenos textos que penso publicar diariamente) a respeito de  um conto do embriagado e cósmico de HP Lovecraft: Dagon ; publicado inicialmente em 1919. No conto, o amálgama do método descritivo adjetivado somado ao sujeito em primeira pessoa cativa com facilidade: meus sentidos são transportados para a vastidão solitária  do oceano que por sua vez transforma-se em um lamaçal negro e pútrido de onde surgem criaturas anciãs e indescritíveis. Não há como sobreviver ... (Onde ler: H.P. Lovecraft: Medo Clássico Vol. 1 , H. P. Lovecraft, Editora